domingo, 23 de setembro de 2018

Na lembrança do dia


do facebook tinha um texto da Clarissa Corrêa que dizia: “Sou egoísta, gosto de ver televisão sozinha, sem ninguém falando junto. Sou chata, não gosto de dividir banheiro com ninguém. Sou espaçosa, bagunço as minhas coisas. Preciso da solidão pra ler, pra olhar para o teto, pra tirar ponta dupla do cabelo, pra fazer as unhas, pra pensar em tudo, pra fazer nada. Preciso da solidão pra ser eu mesma. Pra fazer alongamento, rir de mim, chorar comigo”, devidamente ratificado com um #tipoisso.
Hoje eu estou aqui sozinha, repetindo alguns dos atos do trecho acima. Eu liguei a televisão e não falei nada. Troquei os tapetes do banheiro, arrumei a bagunça do guarda-roupa e olhei para o teto, tirando as pontas duplas do cabelo e borrando o esmalte. Pensei em tudo e em nada, não alonguei, não ri, chorei. Fui grata por tudo, resumi mentalmente o ano em uma palavra: resiliência.
Há uma diferença abissal entre a Patricia de 2016 e a de 2018. Hoje eu amo você. Eu só pude conhecer o amor verdadeiro depois que o amor-próprio fez morada. Em comum, ainda sou “um disco do Nirvana de 20 anos atrás”, a Fernanda Mello é a minha cronista preferida e Só Hoje (letra dela, sucesso do Jota Quest) me emociona. Hoje eu lembrei do nosso amém, de te deixar em casa depois do horário combinado. De como já choramos de rir, já choramos emocionadas numa garagem, já choramos de saudade. Hoje eu pensei em como gosto de combinar personagens e de dormir de “pé dado”. De me sentir segura, de quando você acerta o meu café amargo. De ver você com as minhas camisetas e descalça andando pelo apartamento.
Minha mente e o meu coração estão em sintonia e eu estou em paz.
Perto ou longe.
Obrigada por existir.
“(...) Posso te garantir que o verão solitário me deixou mais mulher, mais leve e mais bronzeada e que, depois de sofrer muito querendo uma pessoa perfeita e uma vida de cinema, eu só quero ser feliz de um jeito simples”. Tati B

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

O que não tem governo, nem nunca terá*

Há dois dias li sobre uma decisão judicial que abria brechas para reversão sexual. Emudeci. Li também uma outra decisão que entendeu que espancar a filha com fio de TV é apenas proteção. O Poder Judiciário brasileiro, machista e opressor, tem revitimizado as minorias. 
Simone de Beauvoir alertou: "Nunca se esqueça que basta uma crise política, econômica ou religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados. Esses direitos não são permanentes, você terá que manter-se vigilante durante toda a sua vida". Ouvi da Licya que uma vez mulher e LGBT a atenção é redobrada, ou o sistema nos engole. Sim, Amélie, "são tempos difíceis para os sonhadores". Censuraram peça teatral com atriz trans e exposição queer, querem negar a existência LGBTQIA+ ao tempo que o nome mais comentado do Rock in Rio é o de uma drag (Pabllo Vittar, te venero). Uma pausa. O Brasil é o país que mais procura por trans no RedTube e o que mais mata trans no mundo. Contraditório, não? 
Ao contrário do que propagam por aí, a espécie humana não é a única homossexual e não são todos os casais homoafetivos que querem ter filhos (sim, podemos). Casal não é só homem e mulher, filhos não são apenas biológicos, cultura não é só o que você gosta (não acredito que em pleno 2017 eu estou repetindo isso). 
O inglês Stephen Fry lembrou no documentário Out There que acontece um homicídio por dia por homofobia em nosso país. Que a lei (que criminaliza a homofobia) não passa por causa de bancadas conservadoras. A risada que se ouve no referido vídeo ecoa nos meus ouvidos sempre que leio que a ditadura não existiu e que é necessária a intervenção militar. Todos estão surdos, Roberto Carlos. E o deboche está escancarado quando usam uma condição para diminuir (gritam viado/sapatão como ofensa, né, Dante?), afinal, qual a graça de ser preconceituoso/a? 
Nos últimos dias tentei contar quantos relatos de homofobia intrafamiliar já ouvi, sem sucesso. Os piores foram confidenciados por adolescentes: "Você está louco/a", "não é normal", "eu não aceito um filho gay dentro da minha casa". A orientação homo é tão normal quanto a hétero, é uma questão de sintonia, não é uma escolha. Pense bem: Quando você resolveu ser hétero?   
A condição vem de dentro para fora, a opção vem de fora para dentro. Se você é hétero convicto, olhe, não há influência que te reverta. O país tropical que era conhecido por sua hospitalidade agora é conhecido por sua intolerância. O que acontece anualmente no Brasil é um verdadeiro "homocausto" (quem quiser saber mais sobre os dados da violência, sugiro que curta a página Quem a Homotransfobia Matou Hoje ? no facebook).
Fora do Brasil, além das já ditas "clínicas de cura", existem campos de concentração e penas de morte... Então, que tal dar uma pausa nos memes? Que tal parar de desmerecer o nosso SUS? A pior homofobia é a infrafamiliar, algumas famílias anseiam por tratamentos de reversão sexual, principalmente de crianças e adolescentes sem voz. Não são casos isolados. Cada caso de violência contra pessoas da comunidade LGBTQIA+ importa e deve ser estudado como tal. Nenhum processo, seja judicial ou não, pode abrir precedentes para o retrocesso. 
Até que ponto a “Justiça” pode controlar atos de conselhos de classe? Há uma memória que não pode ser ignorada: a dos tratamentos desumanos, das torturas físicas e das psicológicas. Uma comunidade inteira precisa de respeito, de liberdade, de oportunidades reais de estudos e trabalhos dignos. Precisa de acesso efetivo à justiça para que cada pessoa possa usar o seu nome, identificar o seu gênero, para dispor do próprio corpo, para casar e ter filhos se quiser, para punir a violência e a morte dos seus (dentre tantos outros direitos básicos), enquanto nada disso é regulamentado. A OMS já ditou: A homossexualidade não é doença. E eu sigo acreditando nos cartazes coloridos que gritam que o amor é o remédio e que amar é um direito de todos.

*Sim, o título do texto foi inspirado na canção O que será (À flor da pele), do Chico Buarque.

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Para o amor que veio depois dos caras errados

Eu nunca vou esquecer a maneira como você me olhou pela primeira vez. Com a cara espantada, sentando devagar e colocando a mochila em cima da cadeira. Era um mundo novo que eu só percebia enquanto profissional, a mudança de cidade ainda não me permitia ver com o coração (que veio desmontado com as caixas).
Nunca passamos uma pela outra sem sentir a energia que Drummond falou: “Aquela que toma conta do corpo como uma corrente elétrica quando tocamos a pessoa certa”. Havia sempre um desconcerto, uma euforia, uma tremedeira (que quase atrapalha a nossa primeira foto).
Eu te pedi paciência pela minha falta de jeito, tomei sua mão e deixei a vontade nos conduzir. Procurei abrir os olhos, manter a sanidade e fui sincera como se deve ser, com o perdão do Gessinger. Não demorou que eu me desnudasse, que a paixão tomasse de conta e aqui estamos...
Atendi o chamado da vida, me enchi de planos, de medos e, por conta deles, te peço sempre para não desistir de mim. De nós. E não desistimos mesmo errando algumas vezes, pois dos erros também tiramos lições para mudar e crescer.
Quando você fixa seus olhos nos meus me sinto forte e amada. Eu me sinto grata pelo seu respeito e seu amor. É como eu te escrevi num cartão com a data de hoje: A paixão não foi uma escolha, mas o amor foi. E todo dia ele é construído, tijolo por tijolo.
É poética a curva que faço ao dobrar o semáforo do Alto do Jucá... Vejo os trilhos postais e minutos depois te pego. Todos os dias eu rezo que Deus abençoe o nosso encontro: benditas sejam as canções oitentistas do Bon Jovi, bendita seja a junção das escovas de dente, bendita seja a nossa coragem de ser quem somos.
Para quem duvida, somos completamente normais, mesmo uma fitness e outra chocólatra, mesmo uma chata e outra teimosa, mesmo uma ariana raiz e outra Nutella. Estou imaginando dois vestidos longos e off-white, estou imaginando gente feliz e uma dança aninhada no peito.
Obrigada pelas suas palavras e ações que transbordam verdade. Obrigada pelo abraço que acalma a minha pressa. Obrigada por revelar o melhor de você em mim e por me florescer em você. Obrigada pelas cervejas, pelos cigarros, pelas tardes, pelas festas, por cada amanhecer, pelos sufocos, pelos depois.
O que eu desejo hoje é que a gente nunca mate a sede da conquista, o aperto da saudade, a curiosidade pela vida da outra para somar e continuar levantando os alicerces do nosso amor, que (como hermana que sou e já cantei) a gente é quem sabe, pequena. 

Feliz nosso dia.

sexta-feira, 23 de junho de 2017

Eu pisei devagar,

um pé e depois o outro, um numa nuvem outro no chão. Eu que sempre via o mundo inteiro de um ângulo privilegiado, desci alguns degraus e absorvi suas dores. Caberia toda felicidade nas suas covinhas. Cabe a minha quando você ri sem parar e emenda um: “para, amor”.
Parece que o fôlego nunca falta, que os tremores não param, que a cama é sempre quente e que o seu abraço é o meu lugar de repouso. Como cantou o Lulu: “Encostar no seu peito, e se isso for algum defeito, por mim, tudo bem”. A Nicette foi muito inteligente esses dias quando disse que não é defeito, é a vida. São nossas vidas, nossas individualidades, só nos diz respeito.
Cada um vê de uma maneira: Há quem pense que estou confusa, vulnerável, há quem veja que estou apaixonada, feliz. “Se você está feliz, isso é o que importa”. Quando ouço essa frase identifico amigos de verdade. Eles torcem por mim sem “mas”. É bem verdade que estou apaixonada há alguns meses. Decidimos viver o momento e como vimos num cartaz, cada beijo é uma revolução. Nós precisamos comemorar e comemoramos, muitas vezes, bebendo cervejas nos dias de feira.
É rotina dormir e acordar com você na minha cabeça, ouvindo suas preces. O sentimento que surgiu tão impetuosamente segue forte. É mais do que nossas peles e cheiros misturados, são nossos braços dados e os sorrisos que só a admiração mútua expressa.
Incrível é aquilo que sinto quando descanso ao seu lado após um dia cheio, quando discordo, quando aprendo, quando calço os seus sapatos, quando desviamos os idiotas do caminho. Incrível é quando você procura me conhecer melhor, quando reconhece os seus erros, quando pergunta se estou bem, quando acorda e ronca mais cedo. Incrível é ver você dormir.
Incríveis são todos os dias, perto ou longe. Incrível é redescobrir o mundo. É notar o brilho do cabelo, dos olhos, é ouvir elogios e alertas. É construir... Subindo outros degraus, passando alguns sufocos e deixando medos para trás. Incrível mesmo é permanecer.